O primeiro dia da Etapa Estadual do Encontro Nacional do PT na Bahia, ontem, em Salvador, marcou a reascensão do senador Jaques Wagner como maior expoente do partido no Estado, o que convalida o projeto de sua candidatura ao governo em 2022, a aposta do PP em se tornar o maior parceiro deste novo empreendimento, ocupando um espaço que hoje é do PSD, e a entrada tanto do governador Rui Costa (PT) quanto do senador Otto Alencar num campo mais periférico no âmbito da bem sucedida aliança que os petistas construiram em 2006 e lhes permitiu chegar até aqui.
Wagner fez um discurso calcado nos anseios da militância, que respondeu deixando claro que ele é “o cara” para dar continuidade ao projeto hegemônico petista de tentar manter o comando do governo a partir das próximas eleições estaduais, dinamitando, de forma límpida e cristalina, qualquer perspectiva que apontasse na direção de o partido passar, de maneira programada e civilizada, o bastão para o PSD, num acordo que envolveria a candidatura de Otto ao governo e de Rui ao Senado com a coadjuvância do PP de Leão na sucessão estadual de 2022.
Por meio de coros como o de “Governador, governador” e “Unidade, unidade”, dirigidos a Wagner, os petistas o entronizaram como seu líder para o futuro, vocalizando que não abrem mão da garantia de empregos e da manutenção do espaço e do prestígio que só o controle da máquina estadual proporciona. Rui discursou assumindo que, se um dia pensou de forma diferente, num outro projeto para si mesmo em aliança com o PSD, não lhe restou alternativa, senão exclusivamente ratificar o plano do senador petista, que é o da grande maioria, senão da totalidade da base.
O governador chegou e saiu na defensiva, tendo que explicar a escorregada da entrevista para a revista Veja, que revoltaram Lula e a direção nacional do PT contra ele, e, pior que isso, que garantir que seu partido é o PT, que não deixará na direção de nenhuma outra legenda, em sua avaliação, uma fofoca pela qual culpou a direita e a mídia, oh, a mídia! Ainda foi alvo de um protesto inoportuno em que, aos gritos de “Governador eu vim dizer privatizar que não é coisa do PT”, petistas protestaram contra seu projeto de usar OSs para administrar a Educação.
Para completar, ainda foi obrigado a ouvir de um Leão empenhado em demonstrar que sua parceria para 2022 está fechada, desde agora, com Wagner, que ele, o governador do Estado, fora uma criação do senador petista, em 2014, na qual, a princípio, não acreditou. “Tive medo (da idéia da candidatura Rui)”, disse Leão, acrescentando, polidamente, que hoje, no entanto, tem grande admiração pelo gestor Rui. Provavelmente para não ver a consagração do projeto de renovação petista com a aprovação de um aliado com que disputa espaço, o PSD e Otto lá não foram.
Sequer, aliás, mandaram representantes. Se ainda restava alguma dúvida no princípio do Encontro sobre se Wagner conseguiria emplacar seu pupilo Eden Valadares sozinho no comando do PT para uma gestão de quatro anos, o que compreende o período estratégico da sucessão estadual, ela se dissipou depois das falas das principais lideranças petistas. Eden não só deve ganhar o posto na eleição de hoje como Valmir Assunção e Nelson Pelegrino, líderes das correntes que se associaram ao senador, devem emplacar os dois outros cargos mais importantes da agremiação.
Enquanto Valmir ficará com a Tesouraria, a caixa registradora do PT, Pelegrino assumirá a SORG, que cuida das filiações partidárias.