Investigação do assassinato de Marielle pode ir ao STF após Bolsonaro ser citado; Globo e Witzel repudiam palavras do presidente

Brasília – Deputado Jair Bolsonaro fala com a imprensa sobre ter virado réu no STF, pela sua declaração que “Não estupraria Maria do Rosário porque ela não merece” (Fábio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil)

Na madrugada desta quarta-feira (30) na Arábia Saudita, onde está em visita oficial, o presidente Jair Bolsonaro reagiu às revelações do Jornal Nacional desta terça. Conforma a reportagem, em 14 março de 2018, horas antes do assassinato da vereadora, o ex-policial militar e suspeito do assassinato, Élcio Queiroz, anunciou na portaria do condomínio em que tem casa o presidente, que iria visitar Bolsonaro.

O ex-pm acabou indo até a casa de Ronnie Lessa, outro ex-PM que é vizinho de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra e suspeito do crime. O caderno de registros do condomínio informa que, às 17h10 no dia do crime, uma pessoa de nome Élcio com um Logan cor prata anunciou que iria até a casa número 58, que pertence ao presidente Jair Bolsonaro. No condomínio, também mora o filho Carlos Bolsonaro na casa 36.

À polícia, o porteiro declarou que ligou para a casa 58. E que uma pessoa que se identificou como “seu Jair” liberou a entrada de Queiroz. O suspeito, no entanto, foi até a casa 66, onde mora Ronnie Lessa. O porteiro, então, telefonou novamente, e o mesmo “Seu Jair” anunciou que sabia para onde ele estava indo.

Declaração de Bolsonaro

“Fui surpreendido agora há pouco de uma matéria do Jornal Nacional sobre o depoimento de um porteiro de que, no dia 14 de março do ano passado, às 17h10, um dos suspeitos de ter executado a Marielle teria se apresentado na portaria, ligado pra minha casa, no caso o porteiro ter ligado pra minha casa, e o porteiro reconheceu como voz sendo a voz minha nessa quarta-feira, 18 de outubro, às 17h10, e autorizou então a entrada do mesmo no condomínio. Detalhe, quarta-feira, geralmente um parlamentar ele está em Brasília, 17h10. Eu tenho registrado no painel eletrônico da Câmara presença 17h41, ou seja, 31 minutos depois da entrada desse cidadão no condomínio. E tenho também às 19h36. E tenho também registrado no dia anterior e no dia posterior as minhas digitais no painel de votação.

Conclusão que se tira disso aí: esse processo está em segredo de Justiça. Como chega na Globo? Quem vazou para a Globo? Segundo a Veja, está publicado aqui, quem vazou esse processo pra Globo foi o senhor governador [Wilson] Witzel. O senhor governador Witzel que se explique agora como é que ele vazou esse processo. O que que cheira isso daqui?

Eu não quero bater o martelo. O que que parece? Que ou o porteiro mentiu ou induziram o porteiro a conduzir um falso testemunho ou escreveram algo no inquérito que o porteiro não leu e assinou embaixo em confiança ao delegado ou aquele que foi ouvir na portaria. Bem, a Globo diz que as minhas digitais estavam aqui de Brasília. Ela não nega isso daí. Mas sempre fica a suspeita na outra ponta da linha”.

Bolsonaro aciona Moro

Na manhã desta quarta-feira (30), em Riad, Bolsonaro conversou com jornalistas na porta do hotel e afirmou que está em contato com o ministro Sergio Moro para que a Polícia Federal colha um novo depoimento do porteiro que associou o presidente ao principal suspeito de ter assassinado a vereadora carioca, Élcio de Queiroz, conforme a BBC Brasil.

“Estou conversando com o ministro da Justiça para a gente tomar, via Polícia Federal, um novo depoimento desse porteiro pela PF para esclarecer de vez esse fato, de modo que esse fantasma que querem colocar no meu colo como possível mentor da morte de Marielle seja enterrado de vez”, afirmou ele. O presidente também disse não saber quem é o porteiro citado na reportagem da Globo.

Caso pode ir pro STF

Segundo o Jornal Nacional, a citação a Bolsonaro pode levar a investigação da morte de Marielle ao Supremo Tribunal Federal (STF) pelo fato de o presidente ter foro privilegiado. Representantes do Ministério Público do Rio que investigam o caso foram até Brasília no último dia 17 de outubro para consultar o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Dias Toffoli, sobre se poderiam continuar com a investigação. Eles, no entanto, ainda não obtiveram resposta.

À reportagem, o advogado de Jair Bolsonaro, Frederick Wassef, afirmou que o depoimento do porteiro é “mentiroso” e que isso é passível de “investigação por falso testemunho”.

Notas

Em relação às ofensas que o presidente Jair Bolsonaro dirigiu à Globo, a emissora divulgou a seguinte nota:

“A Globo não fez patifaria nem canalhice. Fez, como sempre, jornalismo com seriedade e responsabilidade. Revelou a existência do depoimento do porteiro e das afirmações que ele fez. Mas ressaltou, com ênfase e por apuração própria, que as informações do porteiro se chocavam com um fato: a presença do então deputado Jair Bolsonaro em Brasília, naquele dia, com dois registros na lista de presença em votações.

O depoimento do porteiro, com ou sem contradição, é importante, porque diz respeito a um fato que ocorreu com um dos principais acusados, no dia do crime. Além disso, a mera citação do nome do presidente leva o Supremo Tribunal Federal a analisar a situação.

A Globo lamenta que o presidente revele não conhecer a missão do jornalismo de qualidade e use termos injustos para insultar aqueles que não fazem outra coisa senão informar com precisão o público brasileiro. Sobre a afirmação de que, em 2022, não perseguirá a Globo, mas só renovará a sua concessão se o processo estiver, nas palavras dele, enxuto, a Globo afirma que não poderia esperar dele outra atitude. Há 54 anos, a emissora jamais deixou de cumprir as suas obrigações.”

Depois dessas declarações, o governador do Rio de Janeiro, Wilson Witzel, também reagiu. Em nota, afirmou:

“Lamento profundamente a manifestação intempestiva do presidente Jair Bolsonaro. Ressalto que jamais houve qualquer tipo de interferência política nas investigações conduzidas pelo Ministério Público e a cargo da Polícia Civil. Em meu governo, as instituições funcionam plenamente e o respeito à lei rege todas nossas ações. Não transitamos no terreno da ilegalidade, não compactuo com vazamentos à imprensa. Não farei como fizeram comigo, prejulgar e condenar sem provas. Hoje, fui atacado injustamente. Ainda assim, defenderei, como fiz durante os anos em que exerci a Magistratura, o equilíbrio e o bom senso nas relações pessoais e institucionais. Fui eleito sob a bandeira da ética, da moralidade e do combate à corrupção. E deste caminho não me afastarei”.

Da Redação com Bahia Notícias/G1/Veja

Post Author: Rogenilson Reis

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