Porta-voz político da família Marinho, o jornal O Globo responsabiliza o PT pelo avanço de Bolsonaro sobre o eleitorado do Nordeste e ironiza: “Quem sabe a empreitada bolsonarista não facilite a ampla aliança pela democracia de que tanto se fala?”
Os irmãos Marinho, da Globo, e o ex-presidente Lula (Montagem)
Um dos principais influenciadores do processo que resultou no golpe contra Dilma Rousseff (PT) e na decisão que tirou Lula da disputa eleitoral em 2018, a Globo, em editorial no jornal O Globo desta quarta-feira (26), afirma que a derrota de Jair Bolsonaro dependerá da estratégia petista e, em tom de ironia, busca responsabilizar o partido pela dificuldade de se formar uma “ampla aliança pela democracia” contra o bolsonarismo.
“Não se pode menosprezar a legenda brasileira com maior identificação no eleitorado, maior capilaridade nacional e mais bem-sucedida nas urnas desde a redemocratização. O PT elegeu dois presidentes para quatro mandatos, tem hoje a maior bancada na Câmara e é o partido que mais controla governos estaduais (quatro, todos no Nordeste). Ninguém derrotará Bolsonaro sem lidar com o PT. Tudo dependerá da estratégia petista. Quem sabe a empreitada bolsonarista não facilite a ampla aliança pela democracia de que tanto se fala?”, indaga o jornal, depois de dizer que “no campeonato de demagogia entre bolsonarismo e petismo, a conta será impagável”.
O Globo ainda usa a velha tática de atacar Lula, dizendo que a declaração do ex-presidente de que o PT poderia abrir mão da cabeça de chapa em 2022 seria dissimulação, antes de ironizar declarações de Fernando Haddad, do governador da Bahia, Rui Costa, e da presidenta da sigla, Gleisi Hoffmann.
“Lula dissimula, dizendo que, em 2022, o PT poderia apoiar candidato de outra legenda”, diz o texto, que ainda cobra do partido que barre o avanço de Bolsonaro no Nordeste.
“Com o PT em descenso e Lula distante dos holofotes políticos, as famílias pobres nordestinas encontraram no capitão alguém para substituir seu protetor. E de maneira fortuita, pois foi a Covid-19 que ajudou Bolsonaro a descobrir o uso deletério do populismo de Estado para garimpar voto na pobreza”, afirma o jornal da família Marinho, antes de lançar: “E o PT?”.
E o PT? Atingido pelo bolsonarismo em sua zona de conforto, o partido reage de formas múltiplas, ainda sem coerência interna nem estratégia.
Com certa inveja, O Globo abre o texto dizendo que “Bolsonaro está fazendo com êxito o que os tucanos jamais conseguiram — atacar o PT em sua fortaleza do Nordeste”.
“É de lá que tem vindo o apoio responsável pela queda da rejeição ao presidente. Entre os nordestinos, pelo último Datafolha, ela caiu de 52%, em junho, para 35%, na primeira quinzena de agosto. Há indicativos de que Bolsonaro passou a atrair, mesmo fora do Nordeste, os pobres que têm sido eleitores cativos do PT ao longo de várias eleições”.
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